quarta-feira, 23 de setembro de 2009


Pesquisa feita no Instituto de Cardiologia de Porto Alegre ainda aponta que atividade física combinada ao consumo moderado de vinho tinto pode melhorar o desempenho físico e reduzir a pressão arterial

O consumo moderado de vinho aliado à prática de exercício físico aumenta a produção do colesterol bom (HDL), que remove o colesterol ruim (LDL) do organismo. E mais: o desempenho físico pode melhorar e a pressão arterial diminuir com a combinação de atividade física com consumo moderado de vinho tinto. É isso que comprovou o estudo experimental realizado no Instituto de Cardiologia de Porto Alegre, por uma equipe coordenada pelo mestrando Paulo Roberto Soares Filho, sob a orientação do médico cardiologista Iran Castro. O experimento foi realizado com o vinho tinto Dall Pizzol Cabernet Sauvignon.

A defesa pública da dissertação de mestrado ocorreu nesta segunda-feira (21), no Anfiteatro do Centro Cultural Rubem Rodrigues, em Porto Alegre. “Os resultados demonstraram um interessante efeito potencializador na elevação do colesterol bom (HDL) nos ratos que receberam as duas intervenções (vinho e exercício), em comparação com os demais grupos, que tiveram atividade física ou consumo de vinho de forma isolada”, conta o professor de Educação Física, Paulo Soares.

O estudo inédito realizado no Instituto de Cardiologia de Porto Alegre teve o objetivo de conjugar dois fatores que beneficiam o melhor funcionamento do sistema cardiovascular. Assim, uniu-se o exercício físico, que atua na prevenção e tratamento de diversas doenças cardíacas, com o consumo moderado de vinho tinto, que possui efeito cardioprotetor cientificamente comprovado, em parte devido ao álcool como também pela ação dos polifenóis (resveratrol). “Procuramos analisar a resposta desta combinação frente à pressão arterial, HDL (colesterol bom), desempenho físico e mecânico do coração de ratos hipertensos submetidos a um programa de treinamento físico e suplementados com vinho tinto em doses moderadas”, explica Paulo Soares.

Para mensurar com a maior precisão possível os efeitos destas duas intervenções, a amostra do estudo foi dividida em quatro grupos de ratos hipertensos: o Grupo Controle (GC), o Grupo Exercício (GE, que realizou treinamento físico), o Grupo Vinho (GV, que recebeu doses moderadas de vinho tinto) e o Grupo Exercício e Vinho (GEV, que realizou treinamento físico e recebeu doses moderadas de vinho tinto). “O efeito da associação entre o consumo moderado de vinho tinto combinado com a prática de atividade física não está descrito ainda na literatura médica e científica”, observa Paulo Soares.

Ele lembra que as doenças cardiovasculares são consideradas a maior causa de morte no Brasil, totalizando 33,3% dos óbitos ocorridos no Brasil em 2008. Por este motivo, diz o pesquisador, procurar alternativas de tratamentos não-farmacológicos e medidas preventivas podem tornar tratamentos futuros mais eficientes e reduzir custos médicos e socioeconômicos.

Desempenho físico
O grupo que realizou treinamento físico e tomou vinho tinto apresentou um aumento de 62,6% na distância percorrida entre o primeiro e último teste realizado, ante 60,5% feito pelos ratos que só fizeram exercício físico. “Precisamos realizar testes mais conclusivos, também em humanos e por um período de tempo maior, porque o indicativo é de que a combinação de vinho e exercício pode sim ser benéfica à melhoria do desempenho físico”.

Pressão arterial
Os ratos submetidos a exercício físico e consumo moderado de vinho tinto ainda tiveram a sua pressão arterial diminuída. Com a idade, a propensão dos ratos SHR é de ter a pressão arterial aumentada naturalmente. E foi justamente isso que ocorreu com os ratos que não ganharam vinho nem fizeram exercício. “Os grupos de ratos que consumiram, isoladamente, vinho, ou fizeram, também isoladamente, atividade física, igualmente baixaram a pressão arterial”, informa Paulo Soares. A redução do grupo GVE (vinho e exercício combinado) foi maior.

“Queremos agora fazer estes testes em pessoas para poder aferir, com maior precisão, a possibilidade de termos maiores benefícios com o consumo de vinho tinto e exercício físico”, afirma o pesquisador.

Saiba mais
A pesquisa lembra que o consumo moderado de álcool causa aumento nos níveis de colesterol bom (HDL) em até 12%. Os polifenóis presentes no vinho tinto parecem não exercer influência nos níveis de HDL, porém, desempenham papel cardioprotetor, promovendo ação anti-trombótica e redução de placas nas veias coronárias. A importância deste estudo justifica-se na medida em que há poucas evidências científicas sobre o consumo de vinho tinto associado ao exercício físico e a relação com o sistema cardiovascular.

Amostra e Métodos
A amostra do estudo foi composta por 32 ratos SHR, que desenvolvem hipertensão com o passar da idade. O treinamento físico teve duração de 10 semanas. Os ratos, com três meses de idade, foram distribuídos em quatro grupos experimentais, grupo vinho e exercício (GVE), grupo vinho (GV), grupo exercício (GE) e grupo controle (GC). Doses de vinho de 3,715ml/kg/dia foram administradas através de gavagem, durante as 10 semanas. O treinamento físico respeitou os limites de 40 a 70% da capacidade máxima. Os níveis séricos de HDL foram analisados e comparados ao final do estudo.



Defesa pública
O trabalho de Paulo Roberto Soares Filho está inscrito no Programa de Pós-graduação em Ciências da Saúde – Cardiologia, do Instituto de Cardiologia do Rio Grande do Sul – Fundação Universitária de Cardiologia. A orientação é do professor doutor Iran Castro. A banca examinadora foi formada pelo professor dr. Georg Klemt (Faculdade Sogipa de Educação Física), professora dr. Kátia Vianna Rigatto (UFCSPA), professora dra. Vera Lúcia Portal (IC/FUC), professor dr. José Luiz da Costa Vieira, suplente (IC/FUC).

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